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17 de fevereiro de 2014

Pontes e passarelas sustentáveis são 10 vezes mais baratas que modelos convencionais

Produzidas pela USP São Carlos com madeira tratada, pontes podem atingir 20 anos

As pontes e passarelas feitas com eucalipto tratado desenvolvidas conjuntamente pelo Departamento de Engenharia de Estruturas (SET) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) e pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) - ambas unidades da USP São Carlos, já estão presentes em várias regiões do país, especialmente no estado de São Paulo.

Projeto sustentável e que teve recurso de R$ 1 milhão da Fapesp em seu desenvolvimento entre os anos de 2002 e 2006, é uma alternativa “extremamente viável para situações tanto normais como emergenciais para construção de pontes com baixo custo”, aponta o coordenador do projeto, o professor Carlito Calil Jr, do SET/EESC. Ele critica quem chamou estas pontes e passarelas de ‘pinguelinhas’. “Isso demonstra desconhecimento técnico e ignorância sobre tema e o projeto”, diz Calil Jr. Num primeiro momento ele foi concebido no âmbito do Programa Emergencial das Pontes de Madeira para o Estado de São Paulo.

Calil fala que a manutenção de pontes é um problema no país e revela que uma ponte de madeira bem estruturada pode durar até 20 anos e com um custo de produção e instalação até 10 vezes menos que os tradicionais modelos de concreto armado. “O tempo de produção da superestrutura de uma ponte de madeira pode ser, em alguns casos, de até uma semana, auxiliando rapidamente locais que tiveram pontes destruídas, por exemplo, por chuvas excessivas ou desastres naturais”, explica o professor da USP.

As pesquisas para o projeto foram feitas em grande parte no Laboratório de Madeiras e de Estruturas de Madeira (LaMEM), do SET/EESC. A unidade realiza pesquisas teóricas e experimentais em madeiras e estruturas de madeira e prestação de serviço para a comunidade na área de controle de qualidade de madeiras e derivados, normalização e recomendações de projeto e construção de estruturas no material.

O projeto arquitetônico das pontes ficou a cargo do arquiteto Marcelo Suzuki, do IAU/USP, que defende o uso do material devido às suas excelentes condições de manejo no Brasil. “Trata-se uma material de futuro. Habitantes de regiões onde hoje ficam o Japão e a Finlândia já usam madeira para esta e outras finalidades há pelo menos 2.000 anos”, lembra Suzuki.

O arquiteto alega em defesa do material que para se produzir uma tonelada de aço (também empregado na estrutura de pontes de concreto armado), é necessária a queima de 10 metros cúbicos de madeira, gerando poluição entre outros problemas ambientais. “As florestas jovens de eucalipto sequestram carbono da atmosfera e são aliadas na redução do efeito estufa”, defende o professor do IAU.

Do ponto de vista arquitetônico, Suzuki disse que com o intuito de criar urbanidade nas passarelas, criou uma adaptação no design das passarelas para receberem bancos com a possibilidade de pergolados no meio da estrutura.

O coordenador do projeto, professor Calil, diz que a madeira roliça é mais resistente e os eucaliptos utilizados são classificados e possuem controle de qualidade, destacando também que a cidade de São Carlos possui produção desse material. “Todo o processo atende os preceitos da norma NBR 7190. Estamos falando de uma nova opção de uso, além das tradicionais para lenha e combustível”, fala o pesquisador.

Existem em São Carlos 12 estruturas de madeira oriundas do projeto da USP, sendo 5 pontes propriamente ditas, uma delas a primeira a ser feita na América do Sul do tipo protendida (formato de tabuleiro) e que suporta até 45 toneladas e está situada sobre o Rio Monjolinho; mais 7 passarelas, algumas localizadas dentro dos dois campi da USP na cidade e também sobre o Córrego do Gregório e outros veios d’água no município (região do Parque do Kartódromo e Cidade Aracy).

Além de São Carlos, onde o projeto de instalação recebeu apoio da prefeitura, as cidades de Piracicaba (12 pontes), Paracatu/MG (1 ponte), Airuroca/MG (1 ponte) e Catalão/GO (1 ponte) também foram beneficiadas. “O DER [Departamento de Estradas de Rodagem] implantou 4 pontes de madeira na Estrada Velha de Santos [Cubatão], conhecida hoje como Caminho do Mar”, destacou o professor Calil.

Tanto ele como Suzuki apontam que as pontes poderiam plenamente ser adotadas em maior escala na região amazônica, cuja logística para construção de pontes de concreto armado é complexa, onerosa e sofre com a falta de pedreiras próximas aos locais de construção. “Naquela região imensa a madeira é uma solução natural”, aponta o arquiteto do IAU.

"A madeira é o material ecologicamente correto para uso na construção civil de um modo geral por ser o único material estrutural de fonte renovável, de baixo consumo energético para sua produção. A madeira tem resistência especifica na [relação resistência/peso] melhor que o aço e o concreto. E arquitetonicamente é mais agradável”, opina Calil.

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