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Para especialista, falta planejamento |
Para desafogar as estações, o professor da PUC-RJ propôs a redução de tarifas em horários alternativos: "Não temos, por exemplo, até hoje, metrô de madrugada". O professor da PUC também criticou o encarecimento das tarifas do metrô nas últimas décadas na capital fluminense. Segundo ele, em 1983, um salário mínimo bancava 577 viagens por mês. Em 2010, apenas 189. Em sua exposição, Mac Dowell criticou ainda o excesso de paradas nas estações do BRT. "As viagens deveriam ter continuidade", disse.
O coordenador do Programa de Engenharia de Transportes (Coppe/UFRJ), Marcio de Almeida D´Agosto, por sua vez, apresentou números que apontam o predomínio do transporte rodoviário no Brasil, tanto para o setor de cargas, quanto para o de passageiros. De acordo com o estudo apresentado, 89,23% dos passageiros são transportados por rodovias, 7,51% pelo setor aéreo, 3,22% pelo ferroviário, e 0,03 pelo aquaviário. Ele destacou que o Brasil é o líder mundial no uso de biocombustíveis na área de transporte. Disse também que o país precisa aproveitar as oportunidades tecnológicas para, num futuro próximo, aumentar a frota de veículos movidos a energia limpa.
BNDES: financiamento
Ao falar sobre o tema Financiamento e apoio a projetos de mobilidade urbana, o gerente setorial de mobilidade urbana do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o arquiteto Carlos Malburg, destacou a importância do Banco no financiamento do transporte urbano de passageiro apresentando um quadro das condições e exigências impostas pela instituição para a concessão das linhas de financiamento para o setor.
Ao avaliar as condições de transporte público nos dias atuais, Malburg traçou um quadro da evolução histórica da mobilidade brasileira nas últimas décadas, que inclui o crescimento acelerado nas cidades brasileiras e a ausência de prioridade e de regulação do transporte coletivo, entre outras causas, que levaram ao aumento da frota de automóveis, do tempo médio de deslocamento da população, ao aumento da poluição urbana e do custo do transporte, além da redução da qualidade do transporte público em geral. "A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por exemplo, favoreceu o aumento de carros de passeio circulando nas ruas", observou o gerente.
O BNDES, segundo explicou, oferece linhas de financiamento voltadas para o transporte urbano destinadas aos estados, municípios e empresas privadas com um nível de participação que chega a 90% para transporte sobre trilhos e até 70% para demais investimentos no setor. Os projetos para transporte sobre trilhos têm prazo de financiamento que vai de 20 anos (trilhos) até 30 anos (metrô).
De acordo com o palestrante, alguns problemas ainda precisam ser superados, entre eles a capacidade de planejamento. "Se os gestores públicos não têm como se planejar a indústria sofre, o que se reflete nos preços e na perda de competitividade de toda a cadeia produtiva." A falta de continuidade na administração pública, com mudança de governo, também gera imprevisibilidade de contratação, destacou ainda o gerente do BNDES. Em conseqüência, faltam projetos, já que o gestor público não faz os investimentos prévios, como o estudo de demanda, viabilidade econômica e financeira, entre outros, em razão do final do mandato.
Finalizando o encontro, a analista de Controle Externo do TCE-RJ, Márcia Gomes, formada em Engenharia Civil, apresentou um breve resumo sobre o tema de sua dissertação de mestrado em Engenharia Urbana e Ambiental na Pontifícia Universidade Católica (Puc-Rio). A pesquisa aborda a mobilidade urbana com foco na linha 4 do Metrô. Segundo ela, o Rio de Janeiro já havia se candidatado para ser sede das Olimpíadas, mas sempre esbarrava na mobilidade urbana, até que surgiu no cenário este projeto. No entanto, questionou a engenheira, será que a extensão da linha 4 vai conseguir escoar a demanda? Para ela, ao chegarmos em 2016, o ‘carregamento' na estação do metrô da General Osório (quantidade de passageiros que desembarcam de uma linha e passam a outra), será maior que a capacidade projetada para a linha 4. "Serão mais de seis pessoas por metro quadrado no metrô, o que ultrapassará o limite do conforto", avaliou.
Márcia Gomes apresentou ainda uma histórico que destacou o plano diretor da década de 30 (Plano Agache), que já previa o metrô como indutor de crescimento da Barra da tijuca ao invés de ter como indutor a Avenida das Américas. "O plano previa o metrô acompanhando o sopé do morro até Santa Cruz, quando se ligaria à linha ferra, e isso na década de 30. Segundo informações da Secretaria estadual de Transportes do Rio de Janeiro, 80% da movimentação de passageiros é feita por ônibus nos dias de hoje. Isso me surpreendeu", observou a mestranda.
Conforme informou, o Rio de Janeiro está muito atrasado em relação às demais capitais do mundo em termos de investimentos em linhas de metrô. Em 18 anos de investimentos, Xangai, construiu 437 km. Já em Pequim, a população conta com 442 km, enquanto no Rio de Janeiro, temos apenas um pouco mais de 40 km.
A diretora-geral da Escola de Contas e Gestão do TCE-RJ, Paula Alexandra Nazareth, informou que o tema mobilidade urbana foi escolhido pelos próprios servidores do Tribunal após uma consulta pela intranet. "Este é um tema da maior relevância, pois está relacionado à inclusão social. O Estado precisa garantir serviços públicos de qualidade a todos os cidadãos", afirmou. Segundo ela, o cidadão que demora duas horas para chegar em casa não tem tempo de estudar, de se aprimorar, de melhorar de vida. "A qualidade de vida dos cidadãos dentro das cidades têm que estar na ordem do dia de todos os governantes ", acrescentou.
Essas e outras questões que interferem diretamente na vida dos cidadãos cariocas fizeram parte do seminário ‘Mobilidade Urbana' realizado na tarde desta sexta-feira (22/11) no auditório do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), através do Projeto Tardes do Saber da Escola de Contas e Gestão.
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