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26 de março de 2014

Energia "suja" não reduz risco de apagão

Por Reginaldo Gonçalves*

O Brasil, que tanto se empenhou para justificar o uso de hidrelétricas para produzir energia limpa, vive um impasse com relação aos investimentos na área e à reversão de conceitos relativos ao fornecimento aos segmentos empresarial e doméstico. 

O custo da manutenção de um sistema de produção de energia através de hidrelétricas é menor do que a utilização de termelétricas. Estas últimas, que funcionam com a queima de combustíveis ou de outros insumos altamente poluentes, têm custo cerca de dez vezes superior.

O governo foi infeliz em afirmar que não há risco de racionamento ou apagão. As ocorrências de fevereiro, que afetaram diversas regiões do País, foram um desmentido categórico. Somente no dia 04, um apagão que teve início às 14 horas, afetou diversas regiões, deixando cerca de seis milhões de pessoas suscetíveis a prejuízos, além de prejudicar todos os ramos de atividade da indústria, comércio e serviços.

As justificativas são a falta de investimentos por mais de dez anos nas hidrelétricas, confiando que seu potencial não atingiria o limite de capacidade produtiva. O excessivo calor em algumas regiões também serve de bode expiatório, que elevaria a compra de ventiladores e ar condicionados, aumentando consequentemente o consumo de energia. Mas o fato é que temos um outro vilão: a redução das bacias hidrográficas, que começa a prejudicar a geração de energia limpa. Mesmo a “energia suja” produzida através das termelétricas estão sendo utilizadas na potência máxima e poderão, a qualquer momento, entrar em colapso, dando vazão a novos apagões.

As medidas populistas do governo para reduzir o valor das contas de energia elétrica, estimulando o consumo e prejudicando a rentabilidade das empresas geradoras e distribuidoras, o obrigou a segurar o aumento dos preços. Resultado: terá que pagar a diferença entre o valor cobrado e o valor real do consumo. O orçamento prevê para isso repasses que poderão atingir a cifra de R$ 10 bilhões.

As medidas políticas estão postergando a dívida, que deverá estourar em cerca de três anos. Ou seja, assumimos o aumento da energia através do pagamento pelo valor mais próximo a realidade ou veremos o endividamento público crescer sem perspectivas de renovar o parque de produção ou buscar medidas mais coerentes de sustentabilidade.

* Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina - FASM

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