O tabagismo passivo tem efeitos negativos sobre a função coclear e indica um risco potencial de perda auditiva em crianças. É o que revela a pesquisa "Emissões Otoacústicas em escolares expostos ao fumo", realizada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo com 145 estudantes, de 8 a 10 anos, de uma escola da capital paulista. Os alunos tiveram a cotinina (principal metabólito da nicotina) medida na primeira urina da manhã. Sendo que 41% dos alunos participantes foram expostos ao fumo passivo.
Foto: sxc.hu
Para analisar os efeitos do tabagismo passivo na função coclear, órgão responsável pela audição, foi realizada a captação das emissões otoacústicas evocadas transientes das duas orelhas. "No exame, é colocada uma sonda que emite sons no ouvido da criança. A resposta da cóclea é coletada por um microfone no aparelho e processada por um programa de computador", explica a Prof.ª Dra. Alessandra Durante, professora adjunta do curso de Fonoaudiologia da Faculdade Santa Casa de São Paulo e uma das coordenadoras da pesquisa.
As emissões otoacústicas dos estudantes expostos ao fumo apresentaram níveis de respostas mais baixas, sendo observada uma redução média de 2,1 dB de Nível de Pressão Sonora - NPS. Na análise por banda de frequência observou-se redução principalmente em frequências de 2,8 kHz nas orelhas direita e esquerda e de 2,0 kHz na orelha esquerda para a resposta geral. Na relação sinal/ruído, o grupo exposto apresentou respostas diminuídas, sendo que nas bandas de 1,0 kHz e 1,4 kHz com significância estatística.
"Estes resultados têm implicações importantes sobre os danos às estruturas da cóclea. Observamos que as medidas nos alunos expostos ao fumo eram bastante reduzidas quando comparadas aos que não tiveram contato com a fumaça. Esses fatores colocam essas crianças em uma situação de risco visto que, antes de uma perda de audição ser instalada, essas medidas se apresentam diminuídas. A redução da fisiologia coclear é um alerta de que algo permanente pode vir a ocorrer", afirma a professora.
Para a Dra. Alessandra, com a lei antifumo, as pessoas deixaram de fumar em ambientes públicos, mas não perderam o hábito de consumir cigarro dentro de casa, local em que as crianças ficam expostas à fumaça. "Convidamos os pais dos alunos para uma oficina e os resultados da pesquisa foram discutidos, alertando sobre os males dessa exposição", esclarece.
Além da Dra. Alessandra Durante, o desenvolvimento do estudo contou com a colaboração de Beatriz Pucci, ex-aluna de Fonoaudiologia e aluna de especialização em Audiologia; Beatriz Massa, aluna do 3º ano de Fonoaudiologia; Dra. Cristiane Lopes, professora do Departamento de Ciências Fisiológicas da FCMSCSP; Marcella Scigliano Gameiro, aluna de Fonoaudiologia; e Nicolly Gudayol, ex-aluna de Fonoaudiologia e aluna de especialização em Audiologia.
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